quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A VIDA NO PALCO


A literatura conta histórias. Quando lê um romance, você viaja pelo mundo do autor: imagina aquelas pessoas que ele descreve, as paisagens, os ambientes... Já o teatro mostra histórias. Quando você assiste a uma peça, não precisa imaginar nada. As personagens e os cenários estão materializados diante da platéia.
O texto no teatro é essencial, mesmo que os atores não abram a boca (nesse caso eles estariam representando com gestos uma história que teve de ser escrita por alguém).
Mas no teatro o texto não é tudo, como acontece na literatura. Você pode muito bem ler um livro, sozinho num canto, e imaginar à vontade. Também pode ler uma peça, sozinho do mesmo jeito, porém essa leitura solitária vai lhe dar apenas vaga idéia do que você veria no teatro. Porque uma peça só se realiza, só ganha vida, quando chega ao palco.
Quando escreve para o teatro, o autor já está pensando em todas as pessoas que serão necessárias para dar vida a seu texto. Seu trabalho de criação não termina no final da história, como no caso de um romance. O autor de um romance precisa de um editor para publicá-lo, de um livreiro para vendê-lo e de um leitor para lê-lo, porém o que ele apresenta é uma obra acabada.
O autor teatral, também chamado dramaturgo, precisa de muito mais gente; na verdade precisa de todo um batalhão de profissionais para mostrar o que escreveu. São atores, diretor, produtor, cenógrafo, figurinista, iluminador... Sem falar no público.
Vamos por partes.

Os passos do processo

Depois de escrever uma peça, o dramaturgo a leva para uma pessoa ligada ao teatro, geralmente um ator de prestígio ou um diretor. Essa pessoa lê o texto. Se não gostar, devolve-o, e o autor terá de procurar outros interessados. Se gostar, vai tratar de montá-lo, ou seja, de representar a peça para uma platéia, de preferência lotada e empolgada.
Suponhamos que essa pessoa é o diretor. Quando lê o texto, ele já fica pensando: “Puxa, Fulano vai ficar genial nesse papel! E esse aqui é ideal para Beltrana”. O diretor procura os atores que lê gostaria de ver naqueles papéis e dá uma cópia do texto para cada um.
Digamos que tudo corre às mil maravilhas. Os atores adoram o texto, identificam-se com suas personagens e no momento não têm nenhum compromisso que os impeça de participar do projeto.
Agora precisam de um produtor, de alguém que banque o espetáculo, ou seja, que forneça o dinheiro para adquirir móveis, tecidos, roupas, acessórios – enfim todo o material necessário para a montagem -, além de pagar despesas como o aluguel do teatro, a contratação de carpinteiros, eletricistas, costureiras e outros profissionais indispensáveis, a compra de espaço para publicidade nos jornais, revistas e TV...
Mais uma vez dá tudo certo, e o trabalho pode começar. Primeiro se faz uma leitura dramática: todo o elenco se reúne, de preferência sentado em torno de uma mesa, e cada ator lê sua parte, já representando com a entonação de voz que pretende dar à personagem.
O diretor vai corrigindo, vai mostrando a cada um como deve falar. Por exemplo, um simples “Eu te amo” pode ser dito com alegria, com tristeza, com fingimento, com desespero... Depende da situação e também da maneira como o diretor imagina a cena.
O diretor tem a visão geral do espetáculo e sabe qual é o resultado que quer conseguir. Alguns diretores simplesmente impõem sua opinião, porém a maioria conversa com os atores, explica o que tem em mente, escuta o que eles acham e todos chegam a um acordo (ou pelo menos é o que se espera).
Não é só com os atores que o diretor dialoga. Ele também expõe seus objetivos aos demais membros da equipe, explicando o que espera de cada um. E, como cada um tem uma maneira de ver o espetáculo, seguem-se as discussões e as trocas de idéias. Tudo acertado, o cenógrafo tratam de criar os cenários adequados; o iluminador estuda as várias formas de usar a luz; o figurinista concebe as roupas que cada personagem terá de vestir, e assim por diante.
Depois de muito ensaio e muito trabalho, a peça está pronta para ser apresentada ao público. O dinheiro resultante da venda dos ingressos paga os salários do pessoal envolvido no espetáculo.
Reunir uma turma para montar uma peça é uma ótima experiência, pois, colocando-se na pele de uma personagem, você sai de si mesmo, esquece seus problemas e aprende a entender melhor essa complicada e maravilhosa criatura humana. Experimente.

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